PEPITAS DE OURO DA ESTRADA DA VIDA: Chegada à Trindade
Uma casa na colina: Na Trindade, nossa morada primeira foi construída sobre uma colina verdejante, a cerca de um quilômetro do rio Mearim, A casa emergia sobranceira do meio de uma vegetação secundária (capoeira), reminiscência das exuberantes florestas primárias que cobriam a região, num passado não muito remoto. Florestas que haviam sido abatidas pela força do braço escravo, principalmente, para plantação de cana-de-açucar, algodão e pastagem.
Era uma região desabitada e a vegetação ainda, relativamente rica em biodiversidade, com muitos adensamentos de espécies de madeira-de-lei e de palmeira babaçu (Orbignya martiana). A florersta estendia-se pela planície circunvizinha, avançando sobre uma pequena área inundada, o Lago da Trindade. Este, ainda bastante piscoso, era cercado de formações vegetais espinhentas, ricas em marajá (gênero Bactris), além de constitui-se numa importante fonte do mosquito da malária.
A casa era de taipa (paredes de pau-a-pique e varas amarradas com cipó ou fibra vegetal) e chão batido, coberta com palhas de babaçu; construída, provavelmente, entre o final do inverno e início da primavera de 1938, visto que, nascido em abril daquele ano, eu tinha apenas quatro meses de idade, quando ali chegamos.
Nossa família era relativamente numerosa: meu Pai (Zé Bello), minha Mãe (Maria da Conceição), seus oito filhos e dois cunhados (Nezinho e Raimundo Quinco). Os oito filhos compreendiam, em idade decrescente: Maria (casada com Nezinho). Raimunda (noiva ou recém-casada, com Raimundo Quinco).
Sinhô, Antonio, Cesário, Senhara, Judite e Pedro eram crianças ou adolescnetes, com nemos de 14 anos. O mais novo membro da família era a netinha Socorro, filha de Maria, nascida por volta de outubro de 1938.
As atividades de roça tinham início no mês de outubro, com as derrubadas, queimadas e a limpeza do terreno (encoivaramento). Naquela região, ainda hoje, estas operações fazem parte do dia-a-dia dos agricultores.
Experimentado nas lidas da lavoura, meu pai possuía importantes projetos a desenvolver ali. Dentre eles destacavam-se: as plantações tradicionais de milho, arroz, mandioca e feijão e a formação de canaviais para a indústria de açúcar e aguardente, alem do cultivo de pastagem, principalmente, para manutenção do gado leiteiro, dos animais destinados ao trabalho do engenho e ao transporte, em geral, na propriedade.
Plantar tabaco e produzir fumo-de-corda também fazia parte das atividades na Trindade. Quando residia no São Manuel meu pai já compreendeu a importância de produzir e comercializar fumo. E geralmente, vendia sua produção diretamente ao consumidor, para auferir melhores lucros.
(continua...)
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