QUESTÃO 51 - YOUCAT: "SE DEUS TUDO SABE E TUDO PODE, POR QUE NÃO EVITA O MAL?"


(Em edição)

Youcat responde: "Deus só permite o mal para fazer surgir dele algo melhor." (São Tomás de Aquino), [309-314]

E continua: "O mal no mundo é um mistério sombrio e doloroso. O próprio Crucificado perguntou ao Seu Pai: "Meu Deus, Meu Deus, porque Me abandonaste?" (Mt 27,46). Muito dele é incompreensível. Mas de algo temos a certeza: Deus é cem por cento bom. Ele nunca pôde ter sido o autor de algo mau. Deus criou o mundo bom, embora ainda não aperfeiçoado. Com violentas falhas e penosos processos, ele desenvolve-se até à definitiva perfeição. Pode distinguir-se aquilo que a Igreja chama de mal físico, como uma deficiência ingênita ou uma catástrofe natural, do mal moral, que atinge o mundo pelo abuso da liberdade. O "inferno na terra" - crianças-soldado, atentados suicidas, campos de concentração...- é geralmente operado por seres humanos. A pergunta decisiva não é, portanto, "Como se pode crer num Deus bom, se há tanto mal?" mas "Como poderia o ser humano, com coração e inteligência, suportar a vida neste mundo se não existisse Deus?" A morte e a ressurreição de Cristo mostra-nos que o mal não tem a primeira nem a última palavra: do pior dos males Deus fez surgir o bem absoluto. Nós cremos que Deus, no Juízo Final, acabará com toda a injustiça. Na vida do mundo vindouro, o mal não terá mais lugar e o sofrimento acabará. > [40, 286-287].

Citações Youcat: "Eu penso que os sofrimentos do tempo presente não têm comparação com a glória que se há de manifestar em nós. (Rm 8,18.)"

"Nenhum sofrimento é absurdo. Está sempre alicerçado na Sabedoria de Deus. São Tomás de Aquino."

"Deus sussurra nas nossas alegrias, fala na nossa consciência. Nas nossas dores, porém, Ele fala alto; elas são o Seu megafone para despertar o mundo surdo. Clive Staples Lewis (1898-1963, escritor inglês, autor das Crônicas de Nárnia).



CIC [309-314] [40, 286-287] A PROVIDÊNCIA E O ESCÂNDALO DO MAL

309) Se Deus Pai Todo-Poderoso, Criador do mundo ordenado e bom, cuida de todas as suas criaturas, por que então o mal existe? Para esta pergunta tão premente quão inevitável, tão dolorosa quanto misteriosa, não há uma resposta rápida. É o conjunto da fé cristã que constitui a resposta a esta pergunta: a bondade da criação, o drama do pecado, o amor paciente de Deus que se antecipa ao homem por suas Alianças, pela Encarnação redentora de seu Filho, pelo dom do Espírito, pelo congraçamento da Igreja, pela força dos sacramentos, pelo chamado a uma vida bem-aventurada à qual as criaturas livres são convidadas antecipadamente a assentir, mas da qual podem, por um terrível mistério, abrir mão também antecipadamente. Não há nenhum elemento da mensagem cristã que não seja, por uma parte, uma resposta à questão do mal.

310) Mas por que Deus não criou um mundo tão perfeito que nele não possa existir mal algum? Segundo seu poder infinito, Deus sempre poderia criar algo melhor. Todavia, em sua sabedoria e bondade infinitas, Deus quis livremente criar um mundo "em estado de caminhada" para sua perfeição última. Este devir permite, no desígnio de Deus, juntamente com o aparecimento de determinados seres, também o desaparecimento de outros, juntamente com o mais perfeito, também o menos imperfeito, juntamente com as construções da natureza, também as destruições. Juntamente com o bem físico existe, portanto, o mal físico, enquanto a criação não houver atingido sua perfeição.

311) Os anjos e os homens, criaturas inteligentes e livres, devem caminhar para seu destino último por opção livre e amor preferencial. Podem, no entanto, desviar-se. E, de fato, pecaram. Foi assim que o mal moral entrou no mundo, incomensuravelmente mais grave do que o mal físico. Deus não é de modo algum, nem direta nem indiretamente, a causa do mal moral. Todavia, permite-o, respeitando a liberdade de sua criatura e, misteriosamente, sabe auferir dele o bem: Pois o Deus Todo-Poderoso..., por ser soberanamente bom, nunca deixaria qualquer mal existir em suas obras se não fosse bastante poderoso e bom para fazer resultar o bem do próprio ma1.

312) Assim, com o passar do tempo, pode-se descobrir que Deus, em sua providência todo-poderosa, pode extrair um bem das conseqüências de um mal, mesmo moral, causado por suas criaturas: "Não fostes vós, diz José a seus irmãos, que me enviastes para cá, foi Deus; - o mal que tínheis a intenção de fazer-me, o desígnio de Deus o mudou em bem a fim de - salvar a vida de um povo numeroso" (Gn 45,8; 50,20 Do maior mal moral jamais cometido, a saber, a rejeição e homicídio do Filho de Deus, causado pelos pecados de todos os homens, Deus, pela superabundância de sua graça, tirou o maior dos bens: a glorificação de Cristo e a nossa Redenção. Com isso, porém, o mal não se converte em um bem.

313) "Sabemos que, para os que amam a Deus, tudo concorre para o bem" (Rm 8,28). O testemunho dos santos não cessa de confirmar esta verdade. Assim, Sta. Catarina de Sena diz "àqueles que se escandalizam e se revoltam com o que lhes acontece": "Tudo procede do amor tudo está ordenado à salvação do homem, Deus não faz nada que não seja para esta finalidade" E Santo Tomás More, pouco antes de seu martírio, consola sua filha: "Não pode acontecer nada que Deus não tenha querido. Ora, tudo o que ele quer, por pior que possa parecer-nos, é o que há de melhor para nós" E Lady Juliana de Norwich: "Aprendi, portanto, pela graça de Deus, que era preciso apegar-me com firmeza à fé e crer com não menor firmeza que todas as coisas irão bem.... “Tu mesmo verás que qualquer tipo de circunstância servirá para o bem” - Thou shalt see thyself that all MANNER of thing shall be well"

314) Cremos firmemente que Deus é o Senhor do mundo e da história. Mas os caminhos de sua providência muitas vezes nos são desconhecidos. Só no final, quando acabar o nosso conhecimento parcial, quando virmos Deus "face a face" (1 Cor 13,12), teremos pleno conhecimento dos caminhos pelos quais, mesmo por meio dos dramas do mal e do pecado, Deus terá conduzido sua criação até o descanso desse Sábado [fca109] definitivo[fca110] , em vista do qual criou o céu e a terra.

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40) Uma vez que nosso conhecimento de Deus é limitado, também limitada é nossa linguagem sobre Deus. Só podemos falar de Deus a partir das criaturas e segundo nosso modo humano limitado de conhecer e de pensar.


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286) Sem dúvida, a inteligência humana já pode encontrar uma resposta para a questão das origens. Com efeito, a existência de Deus Criador pode ser conhecida com certeza por meio de suas obras, graças à luz da razão humana [fca30], ainda que este conhecimento seja muitas vezes obscurecido e desfigurado pelo erro. É por isso que a fé vem confirmar e iluminar a razão na compreensão correta desta verdade: "Foi pela fé que compreendemos que os mundos foram formados por uma palavra de Deus. Por isso é que o mundo visível não tem sua origem em coisas manifestas" (Hb 11,3 [a31] ).

287) A verdade da criação é tão importante para toda a vida humana que Deus, em sua ternura, quis revelar a Seu povo tudo o que é útil conhecer a este respeito. Para além do conhecimento natural que todo homem pode ter do Criador, Deus revelou progressivamente a Israel o mistério da criação. Ele, que escolheu os patriarcas, que fez Israel sair do Egito e que, ao escolher Israel, o criou e o formou, se revela como Aquele a quem pertencem todos os povos da terra, e a terra inteira, como o único que "fez o céu e a terra" (Sl 115,15; 124,8; 134,3).


REFLEXÃO

Há uma distância infinita entre a criatura e seu Criador. Quem pode penetrar a Sabedoria infinita de Deus? 
Dizemos que Deus escreve certo através de linhas tortas, justamente porque o ser humano não pode alcançar e entender Deus. Somente Deus nos pode  dar a conhecer os Seus desígnios. O ser humano, por si mesmo, não poderá saber o que é bom ou mal para Deus. 
"Sabemos que, para os que amam a Deus, tudo concorre para o bem" (Rm 8,28).

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