PEPITAS DE OURO DA ESTRADA DA VIDA: Raimunda Leite da Cruz: Alguns Traços Históricos
Minha querida irmã Raimunda Leite da Cruz |
ALGUNS TRAÇOS HISTÓRIOS FAMILIARES
Informes iniciais: Conforme pesquisas, Raimundo significa protetor ou sábio, pessoa muito rigorosa consigo mesma, com tendência a isolamento e a supervalorização das virtudes de outrem. Quando consciente de sua importância, pode tornar-se conselheiro e sustentáculo. Dizem ser palavra de origem francesa: do gótico "protetor, poderoso". No entanto, outros acreditam que a palavra provém de Ramiro, nome de origem alemã, de onde deriva Radamir, cujo significado é: "conselheiro ilustre, famoso". Derivando Raimón = Raimundo.
Local de Nascimento: Raimunda Furtado Leite nasceu em Pedreiras (Ma), no bairro "Anjo da Guarda" (?), em 4 de agosto de 1924, casou-se em 1939, com 15 anos de idade, com Raimundo Cesário Cruz, seu primo em primeiro grau, tendo falecido em 30 de agosto de 1964.O Casamento: Segundo informações colhidas junto a vários familiares, o casamento ocorreu de modo singular. Os primos namoravam e tinham intenção de realizar um casamento que, por precoce, provavelmente, seria contrário à vontade dos pais. Por isso, planejaram fugir e por em prática seus intentos. Entretanto, o pai da jovem, tendo se deslocado da Trindade à Pedreiras para participar da missa dominical, lá, tomara conhecimento do plano dos jovens e, quando regressou, passou pelo Altamira para acertar as coisas. Deve ter havido uma conversa amistosa com a filha que culminou na aprovação do seu casamento. Certamente, conviria mais a ele um casamento precoce do que o vexame da fuga de dois jovens embevecidos de amor.
A Festa no Altamira: Dizem que a festa do casamento ocorreu na casa de tio Joaquim Cesário Cruz (Quinco Cesário), o pai do noivo, tio da noiva, no Altamira, propriedade situada no caminho da cidade, entre as terras dos Cardosos e Augustinhos, na planície do importante Igarapé da Agricultura que irriga as terras de meu padrinho Bello Xavier.Meus pais aprovaram o casamento porém não participaram. Fizeram-se representar por minha irmã Maria e seu esposo Manoel Martins dos Santos (Nezinho).
Altamira: Viajando de Pedreiras para a Trindade, trilhei muito pelo caminho que passa por esta localidade, quase uma trilha de roça, cortando morros e vales lamacentos povoados de palmeirais. E lembro-me bem da linda propriedade chamada Altamira. Nela havia uma bela casa, provavelmente remanescente de antiga fazenda de escravo, cercada de fruteiras, numa colina, afastada cerca de 500 metros do caminho geral. O acesso era feito por uma cancela e um corredor de cercas onde podiam ser vistos belos exemplares senis da elegante palmeira-real, provavemente, plantados na segunda metade do século XIX.
“Espada Velha”, uma Cobra no Caminho: Neste caminho, num momento posterior, passei por um teste perigoso. Era final da temporada de chuvas, provavelmente, abril ou maio, ocasião dos preparativos para dar início à moagem da cana e a produção de aguardente, rapadura e açúcar, atividades principais da estiagem.Assim, meu Pai,.meu irmão Antônio e eu, regressávamos de Pedreiras para a Trindade, por aquele caminho, conduzindo um animal e preciosa carga: o "Pé-de-Dorna", um tipo de garapa azeda usada na fermentação do caldo-de-cana e produção de cachaça. Caminhávamos em fila, atrás da mula: Antonio, eu e, por fim, meu Pai. Ali, naquele trecho de caminho do Altamira, havia um tronco de pinhão-roxo cortado, deitado ao chão, medindo de 10 a 15 cm de diâmetro. Por baixo, escondia-se uma cobra “Espada-velha”. Creio que ela despertou com os primeiro caminhantes e quando chegou minha vez de cruzar o tronco ela deu o bote, picando meu dedo indicador do pé esquerdo. Tomei um susto danado quando senti arder o dedo vi a cobra. Comecei a pular e pular..., tentando cair fora. Quando, finalmente, consegui libertar-me daquela situação, meu pai quis matar a cobra porem, ela já estava morrendo. Creio que a matei pisoteada, movido pelo pavor. Resultado: meu pai espremeu o local da picada, mandou-me meter o pé na lama. Depois, ele queria passar pela casa do Alves, um Sr. curado de cobra, para pedir-lhe o remédio definitivo: uma cuspida na boca para matar o veneno da cobra. Eu me dispus a atolar o pé em todo lameiro do caminho, para não me submeter à tortura da cuspida. Que coisa louca !... Felizmente, não tive problema. Daí por diante, passaram a crer que eu seria mais um privilegiado, curado de cobra, podendo dar minhas cuspidas.
Onde residiu o novo casal?: Não tenho informação sobre o local de residência do novo casal durante os dois primeiros anos de vida conjugal, provavelmente lá mesmo no Altamira. O certo é que, em outubro 1941, residia na Trindade, numa antiga casa, à beira do riacho, onde foram construídas nossa residência definitiva e a nova casa de engenho, após o incêndio da casa da colina, do lago.
Nascimento de Inácio: Tenho lembrança de que, ali, nasceu o primeiro filho de minha irmã Raimunda, Inácio Cesário Cruz. Naquele dia, com pouco mais de 3 anos de idade, eu não sabia o que estava acontecendo do lado interno daquela casa cercada de mangueiras e laranjeiras, naquela beira de caminho do rio Mearim. Era um grande alvoroço, corre-corre, pra dentro e pra fora, e ninguém me dava qualquer explicação. Crianças não podiam chegar perto. Amedrontadas, eram afastadas dali sem qualquer explicação sobre o que se passava na casa.Segunda Lembrança Mais Antiga: Creio que esta deve ter sido a minha segunda lembrança mais antiga, visto que a primeira, foi aquela em que meu pai salvou-me de entre os chifres dos bois Moreno e Azulão.
Seria um Novo Incêndio?: Eu já havia presenciado a correria de um incêndio. Aquele que destruíra nossa casa da colina, acontecimento guardado apenas em meu subconsciente, pois confesso que não lembro absolutamente nada dele. Estaria ocorrendo, ali, outro incêncio ...? Felizmente, não se tratava disto mas, dos preparativos para a chegada do meu sobrinho Inácio.
O Nome e a Promessa: O nome Inácio fora dado ao recém-nascido, segundo fui informado, para assegurar-lhe a sobrevivência, tendo em vista que três outras crianças nascidas anteriormente, não haviam sobrevivido.Pesquisas apontam que Inácio significa ardente e indica uma pessoa vivaz e inteligente que, em geral, amadurece com as dificuldades. Supera obstáculos com bom humor e perseverança. Há quem atribua ao nome Inácio origem etrusca. O fato é que, na história, aparece registrado como sobrenome pelos antigos romanos.
Relato de Sinhara e Judite: A seguir, apresento um relato elaborado por minhas irmãs Judite e Sinhara sobre esta matéria: "Primeiro vamos falar sobre a nossa casa na trindade, a 1ª casa foi queimada em 1940 + ou - em dezembro. Depois que a casa queimou, fomos morar na casa do engenho no mesmo lado do lago, o caminho ficava no meio entre a queimada e o lago. Perto da casa do engenho tinha um caminho que ia até o brochado (1). Nezinho morava no mesmo lado, em uma lombada, antes da casa do engenho velho; de lá, ele via o fogo e foi ajudar a apagar. Os moradores da Trindade, ao ouvirem a zoada do fogo na casa, pensavam que era barulho de avião, algo difícil de se ouvir, na época. Somente após se haver espalhado a noticia os moradores correram e, certamente, ainda puderam ajudar no salvamento. Foi aproveitado apenas um pouco do milho e do arroz. Na casa do engenho não dava para morar, então o Pai comprou uma casa do Sr. Alípio. Ela ficava próxima ao terreno onde ele construiu, posteriormente, a morada definitiva. Uma bela casa de taipa, coberta de telha"."Sobre Raimunda: ela não chegou a fugir. Pai havia vindo a Pedreiras onde ouviu boatos afirmando que Raimundo Quinco iria roubá-la, e que o Pai dele estava de acordo. Nosso Pai passou lá, no Altamira, e declarou que não precisavam roubá-la. Afirmando que, mesmo contra sua vontade, iria aceitar o casamento e, gostaria que o mesmo fosse realizado logo.Quando ela casou, ficou morando em Altamira, logo ficou grávida e acabou perdendo (sofreu um aborto) com poucos meses, depois do 2º aborto ele mudou para a Trindade, para a casa da beira da estrada, perto da bagaceira do engenho. Ele foi trabalhar no engenho do sogro. Houve o 3º aborto. Então aconselharam que ela deveria fazer uma promessa com Santo Inácio para não mais perder as crianças. A promessa era assim: o primeiro filho que nascesse vivo e de tempo normal se chamaria Inácio. Feita a promessa, a gestação transcorreu normal, a criança nasceu em paz e recebeu o nome Inácio, como prometido. Dai por diante, nasceram-lhe e foram criados mais 12 filhos.
OBS: conforme prometido, são palavras da minha mãe Judite e da tia Sinhara....um abraço....Janaina.(1) Uma região de lagos, planície inundável do rio Mearim, onde se faziam as plantações de vazantes, especialmente de melancia e melão.
Comentários