PEPITAS DE OURO DA ESTRADA DA VIDA: ÉS CURADO DE COBRA ?


 ÉS CURADO DE COBRA ?


Espada-velha, uma cobra  do Brasil
                                                                                  

Espada velha (uma cobra no caminho), pé-de-dorna, cachaça e veneno.

Na minha terra (Pedreiras-Ma.), em meados do século passado, no caminho Pedreiras-Trindade, alternativa Rua-dos-Doidos-Altamira, certa vez, passei por um teste impressionante. 
Era final da temporada das chuvas, provavelmente, Abril ou Maio, ocasião dos preparativos para início da moagem da cana-de-açúcar e a produção de melado, aguardente, rapadura e açúcar, atividades principais do tempo de estiagem, na região.

A história começa assim: 

Meu Pai (José Bello), meu irmão António e eu, regressávamos de Pedreiras para a Trindade, por aquele caminho tortuoso, inter-montano, conduzindo um animal com preciosa carga: o "Pé-de-Dorna", um tipo de garapa azeda obtida por meu pai no engenho do Sr. João Rosa, velho conhecido da família, situado nos arredores de Pedreiras.
Este material destinava-se à fermentação do caldo-de-cana para produção de aguardente no engenho de meu pai, na Trindade. 
Caminhávamos em fila, atrás da mula de carga: António, eu e, por fim, meu Pai. Ali, naquele trecho de caminho do Altamira, havia um tronco de pinhão-roxo cortado, deitado ao chão, medindo de 20 a 30 cm de diâmetro. Escondida por baixo do tronco estava uma cobra cinzenta, venenosa, identificada como sendo uma “Espada-velha”. 
Creio que despertou com os primeiro caminhantes e quando chegou minha vez de cruzar o tronco ela deu o bote, picando meu dedo indicador do pé esquerdo. Tomei um susto danado quando senti arder o dedo e vi a cobra. 
Comecei a pular desesperadamente, tentando sair daquela situação. Quando, finalmente, consegui libertar-me, meu pai quis matar a cobra porem, ela já estava morrendo. Creio que, movido pelo pavor, a matei pisoteada. 
Resultado: meu pai espremeu o local da picada, mandou-me caminhar na lama para lavar o veneno. 
Depois, ele queria passar pela casa do nosso aparentado, o Sr. Alves, um curador de cobra, para pedir-lhe o remédio definitivo: uma cuspida em minha boca para matar o veneno da cobra que, por acaso, houvesse invadido meu sangue. 
Eu me dispus a atolar o pé em todo lamaçal do caminho, para não me submeter à tortura da cuspida. 
Que remédio louco !... 
Felizmente, não tive problema. 
Daí por diante, passaram a crer que eu seria mais um privilegiado, curado de cobra, podendo, também, cuspir e curar.
O mais provável é que, naquela ocasião, a Espada velha estivesse tirando uma sesta, após uma refeição, ocasião em que fica desprovida de veneno, segundo dizem alguns.
Devo acrescentar que, quando ainda criança, aprendi uma oração para proteção contra picada de cobra, nos seguintes termos:: "São Bento, água benta, Jesus Cristo no altar, abaixa tua cabeça cobra, deixa, em paz, nosso povinho passar".
Graças a Deus, chegamos à Trindade sem problema, com a preciosa carga de pé-de-dorna. 

Saudade de minha terra!...





Comentários

sandra disse…
Oi,tio! Só agora acessei os blogs da família Leite e pude perceber que é coisa de profissional! O mais importante disso tudo é que vocês descobriram uma forma de preservar nossas raízes, nossa história. As gerações atuais e futuras agradecem! PARABÉNS!

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