PEPITAS DE OURO DA ESTRADA DA VIDA: MÃE TERRA, POR TUDO O QUANTO EM TI VIVI, SOFRI, SONHEI E APRENDI, TENS O MEU AMOR FILIAL
MÃE TERRA, POR TUDO O QUANTO EM TI VIVI, SOFRI,
SONHEI E APRENDI, TENS O MEU AMOR FILIAL!
Estive distante:
Inicialmente, é necessário dizer que grande parte de meus anos os tenho vivido fisicamente distante porem, mentalmente presente na Trindade.
Uma terra que não me viu nascer, não me deu fama nem meritório saber porem, ensinou-me a moldar os primeiros sapatos de lama, a suportar com paciência os primeiros espinhos, a conservar a alma simples, amante da natureza, e a confiar nas promessas de um Deus cheio de amor pela humanidade.
Raízes / Sonhos: Terra da Primeira Vista:
É necessário acrescentar que, por onde tenho palmilhado a longitude de meus dias, neste nosso grandioso pais, guardei sempre com carinho as raízes do meu ser, uma acalentadora lembrança da terra que avistei primeiro - a "Trindade", amiga e benévola - que me deu guarida às travessuras infantis, e embalou-me os dourados sonhos do raiar de minha existência. Sonhos de inocente criatura, plasmados nos embates da rudeza singela de incultas plagas, do entorno de uma pequena cidade em gestação:
Pedreiras:
Um povoado florescente, mergulhado em verdejantes paisagens de babaçuais, com suas cercanias acidentadas e pontilhadas de pastagens, sítios e lavouras, associadas a singelos agrupamentos de casas, geralmente de barro, cobertas com folhas de palmeira.
Escravos e Imigrantes, Fixação na Terra:
Foram tantos os núcleos de ocupação humana surgidos naquelas terras, desde a implantação das antigas fazendas de escravos até a primeira metade do século passado, quando a região recebeu muitas levas de imigrantes, os fugitivos da seca nordestina. Eram caravanas enormes, formadas por dezenas e até centenas de famílias, que chegavam com seus pertences, à região de Pedreiras, provenientes, principalmente, do sertão do Cariri cearense, andando a pé ou montando mulas.
Os núcleos desenvolvidos a partir das sedes de fazendas de escravo receberam denominações que se cristalizaram no tempo. Quero lembrar, especialmente, aqueles onde meus familiares, nas primeiras décadas do século passado, se fixaram como imigrantes: São Manuel, Olho d' Água, Sítio Novo, Bom Jesus, São Domingos, Belém, Transval, Embaubinha, Trindade, Barreiros, Caiçara e Baixa-Fria, alem de outros.
A Trindade de minha infância
A mudança:
Nasci em Abril de 1938, no Anjo da Guarda, um bairro em formação na entrada da cidade de Pedreiras.
Por volta de Setembro do mesmo ano, meus pais compraram as terras da família Galvão, uma antiga fazenda de escravos denominada Trindade, à margem esquerda do Mearim, a cerca de 12 quilómetros de Pedreiras, rio acima.
Assim, com quatro meses de vida, fui levado a viver naquele local ermo e doentio. Numa linda colina, nas proximidades de um lago, a aproximadamente um quilómetro do rio, nossa residência foi erguida com madeira, cipó, barro amassado e palha de babaçu. E, numa suave elevação, mais próxima ao lago, foi construída uma casa-de-engenho: grande galpão coberto de palhas de palmeira, fechado com varas, cipós ou fibras de árvore. Seria mesmo um lindo lugar e o mais perfeito para se construir a morada dos sonhos, se não fosse um sanguinário inimigo: o mosquito da malária.
A família abatida:
Uma febre intermitente típica de região tropical chuvosa abateu-se sobre todos os componentes da família recém-chegada.
O lago era o principal gerador do mosquito e a malária, terrível o açoite que transformou nossas vidas num inferno, durante muitos meses. As crises febris eram debeladas com remédios à base de quinino, manipulados nas farmácias de Pedreiras, nos finais de semana.
As farmácias dos Srs. Vicente Benigno e Carlos Martins estavam entre os pontos principais de socorro do agricultor, naqueles tempos difíceis; onde iam após a missa do domingo, ou mesmo, durante a semana, quando a urgência se fazia necessária.
(A matéria deste Blog é de uso livre, com citação da fonte).
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