PEPITAS DE OURO DA ESTRADA DA VIDA: FORTALEZA DE NOSSA SENHORA DA ASSUNÇÃO (REEDITADO)
Fragmentos Históricos
Segundo a história, o marco inicial da capital cearense data de 1611 e 1612 quando foram construídos o Forte de São Sebastião e a Igreja de Nossa Senhora do Amparo.
Em 1649, a Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, erguida pelo Capitão holandês Matias Beck passa a fazer parte do cenário com o nome inicial de Forte Schoonenborch.
Em 1654, expulsos os holandeses, os portugueses mudaram o nome "Forte" para "Fortaleza", dedicando-a a Nossa Senhora da Assunção.
Desde 1942, o local é sede do Quartel-General da 10ª Região Militar do Exército Brasileiro. Dentro da Fortaleza há um pequeno museu dedicado ao General Antonio Sampaio, herói cearense da Guerra do Paraguai. Canhões antigos ainda podem ser vistos no local. No pátio, há também uma estátua de Martins Soares Moreno, herói cearense, sertanista incumbido pelo Governador Geral, D. Diogo Meneses e Sequeiras (1608/12), de estabelecer comunicação com tribos indígenas. Tornou-se personagem do escritor José de Alencar que o apresenta em convívio harmonioso com índios potiguaras.
A Caminhada e a Poeira da Estrada
O homem nasce, vai crescendo e explorando ao seu redor. Depois ganha asas, voa longe e alto, buscando conhecer o mundo e saborear a vida. Geralmente, a caminhada, seus projetos, o ocupam inteiro, não sobrando tempo para bem apreciar o presente ou dar atenção ao passado.
Os cabelos brancos servem para indicar o tempo de reduzir o passo e emitir um olhar por sobre os ombros, para recolher algumas pepitas de ouro esquecidas na poeira da estrada, por conta da pressa da jovem caminhada.
A Pepita
No início da minha caminhada encontra-se São João do Tauape de onde recolho lembranças, verdadeiras pepitas de ouro de minha juventude. Jovem, puro, inquieto, interrogativo e cheio de esperança, em 1955, fui conduzido do interior para a capital, indo residir com meu Irmão, recém casado, em São João do Tauape, bairro em expansão nos areais pras bandas da Base aérea de Fortaleza, saída de Messejana. Numa visita com a família ao Maranhão, para rever nossos pais, meu irmão quis ajudar-me nos estudos. Nem todo jovem do interior possuía alguém da família na capital para acolhê-lo, dando-lhe oportunidade de estudar e ter um futuro melhor.
Novidade e deslumbramento
Novidade e deslumbramento
Para aquele jovem, naquela época, quase tudo era novidade em Fortaleza. E, assim como, em 1531, do olhar da Virgem de Guadalupe projetou-se o pobre índio mexicano Juan Diego, em 1955, as luzes da cidade de Nossa Senhora da Assunção saltaram do inocente e deslumbrado olhar daquele novo habitante.
Luzes e Cores da Cidade
No centro elegante e inundado de luzes, belos edifícios e casas comerciais exibem multicores letreiros luminosos. Os postos de combustível destacavam-se por suas viscosas ofertas de gás e oleo: SHEL X 100, Motor Óleo, Faixa Dourada, com ICA.
As praças e ruas centrais são espaços onde o nordestino exibe sua engenhosa capacidade de venda e sobrevivência. A rua do correio era marcada pelo equilibrismo de um paraplégico que divertia o transeunte. Braços musculosos palmando a calçada sustentavam um corpo miúdo de pernas finas que simulavam asas atreladas às costas. O homem, emitindo som de aeronave, executava com o corpo uma aterrissagem, reunindo pequena multidão com suas proezas, enquanto moedas caiam em seu prato amassado de alumínio. Enquanto isso, na calçada do Café Val-Can, um jovem mudo vendedor de jornais repetia: "Orrei pô"!!!, Ôrrei pô"!!! (o Correio e o Povo). Na praça José de Alencar outro vendedor exclamava: "Desinfetante pra mala, maleta e guarda-roupa, pedra pra Isqueiro, e oito pedra e cinco!!!"
Retornando a Fortaleza muitos anos depois, fiquei admirado de ver aquele mudo, agora homem feito, repetindo praticamente a mesma oração: kiorrê-pôf- kiorrê-pôf .
Traços do São João do Tauape
Diversos, como os intermináveis cordões de luz elétrica que com freqüência enfeitavam ruas de areia ou de chão batido, com pouca freqüência de automóveis.
Do centro para o bairro do São João do Tauape, seguia-se de ônibus pela rua Joaquim Távora, passando em frente a igreja Coração de Jesus, seguindo em direção à Base Aérea. O ônibus entrava à esquerda, pela rua Monsenhor Salazar onde, ainda hoje, se encontra a igrejinha de São João Batista, indo estacionar, poucas quadras adiante, à sombra de uma grande figueira (pé de benjamim). Ali, motorista e cobrador podiam tomar um gostoso caldo de cana, enquanto os passageiros lotavam o ônibus, retornando ao centro da cidade.
São João era pouco habitado. Do ponto final do lotação até nossa residência seguia-se a pé, por mais duas quadras e meia, em pesado areal, alcançando a casa nº 4132 da rua Carlos Vasconcelos. Hoje, rua Professor Carvalho, a casa ainda tem o nº 4132. Com algum cuidado, ainda é possível descobrir traços daquele tempo. A Casa era caiada, tipo bangalô, com uma entrada coberta, jardim e duas janelas desenhadas para aquela rua de areia fofa.
Ao lado, havia um salão de barbeiro que depois foi anexado a casa por conveniência e segurança.
Há poucas quadras ficava a mercearia do Zé Abreu, onde se podia comprar leite e pão, uma vara de trigo embrulhada em grosso papel.
Havia também uma grande mercearia-bar junto à parada final do ônibus, reconhecida pela grande quantidade de portas que possuía.
São João do Tauape era um imenso areal difícil de trilhar em dia de sol. Nas proximidades da casa do Zé Abreu, havia um bar freqüentado por meu irmão. Ele costumava estacionar o jipe para tomar um trago. Neste local, certa vez, estando eu no jipe, enquanto meu irmão tomava uma dose, quase aconteceu um acidente. Eu ainda não sabia dirigir automóvel. Resolvi aproveitar a oportunidade para exercitar alguns conhecimentos adquiridos apenas por observação. Liguei o carro. E meu irmão ouvindo o barulho gritou... Eu me espantei com o grito e, retirando o pé da embreagem, fiz o jipe avançar em direção a uns garotos que brincavam na areia, à frente.
No início de 1956, era nostálgico caminhar naquele areal ouvindo as músicas carnavalescas executadas por um serviço de alto falante local.
Ao lado, havia um salão de barbeiro que depois foi anexado a casa por conveniência e segurança.
Há poucas quadras ficava a mercearia do Zé Abreu, onde se podia comprar leite e pão, uma vara de trigo embrulhada em grosso papel.
Havia também uma grande mercearia-bar junto à parada final do ônibus, reconhecida pela grande quantidade de portas que possuía.
São João do Tauape era um imenso areal difícil de trilhar em dia de sol. Nas proximidades da casa do Zé Abreu, havia um bar freqüentado por meu irmão. Ele costumava estacionar o jipe para tomar um trago. Neste local, certa vez, estando eu no jipe, enquanto meu irmão tomava uma dose, quase aconteceu um acidente. Eu ainda não sabia dirigir automóvel. Resolvi aproveitar a oportunidade para exercitar alguns conhecimentos adquiridos apenas por observação. Liguei o carro. E meu irmão ouvindo o barulho gritou... Eu me espantei com o grito e, retirando o pé da embreagem, fiz o jipe avançar em direção a uns garotos que brincavam na areia, à frente.
No início de 1956, era nostálgico caminhar naquele areal ouvindo as músicas carnavalescas executadas por um serviço de alto falante local.
A cidade: contrastes em versos.
Resplandece a cidade altiva e formosa
Com um céu azulado e lindo horizonte,
Onde a estrela do dia passeia majestosa,
Desenhando paisagens alegres, fulgurantes...
A passarada se apressa fechando a madrugada,
Ao prever da manhã os albores primeiros,
Aflitos preparam eloqüente jornada...
A brisa costeira soprando rasteira,
Sacode os coqueiros e bafeja as restingas,
Seguindo mais longe, alcança os sertões,
E invade os rincões de cipós das caatingas.
Apressado se lança ruidoso o vento,
Moldando espinhos e alisando a cera,
De aguçadas palmas de carnaubeira.
O vento se dobra em intensa exaustão,
Com gemidos e uivos, abatido se entrega,
Ao rigor da caatinga, à aridez do sertão...
Protegem a cidade das ondas revoltas,
Que domadas e mansas às praias se lançam
Descanso e lazer para quem as alcançam...
A labuta dinâmica das ruas do centro
É lorota, é dinheiro, é negócio opulento,
É lorota, é dinheiro, é negócio opulento,
Em vivo contraste com bairros singelos,
De casas caiadas, de pouca zoeira,
De gente modesta vendendo na feira...
Embalando a abundante e dócil ramagem,
Ao impulso salino de alísios ventos,
Cajueiros, coqueiros, enfeitam a paisagem,
Com folhas coreáceas e frutos suculentos.
Vídeo
Deus vive dentro em mim.
Oficinas Oração e Vida
Fr Ignácio Larrañaga
(Texto: P.F. Leite, em edição...).
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